sexta-feira, 15 de maio de 2020

BREVE HISTÓRIA DA FERROVIA DO SESC MG DE GRUSSAÍ

BREVE HISTÓRICO DO COMPLEXO FERROVIÁRIO TURÍSTICO DO SESC MINEIRO DE GRUSSAÍ

* Andre Pinto

O município de São João da Barra - RJ teve reconhecimento como município turístico (MT) pela Embratur (quando da elaboração do RINTUR 2000-2001), pela Deliberação Normativa 432 de 28 de novembro de 2002 e em 2017 foi reconhecido pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro – ALERJ, pela Lei estadual nº 7528, como Município de Interesse Turístico. Em fevereiro de 2018 foi reconhecido como cidade turística pela Embratur devido ao município ter aderido ao Programa de Regionalização proposto pelo Ministério do Turismo, voltando a fazer parte da Região Costa Doce. Reconhecidamente turístico, deve-se aqui mencionar que o SESC Mineiro de Grussaí teve importância significativa nesse contexto, principalmente por suas condições de acomodação quando da elaboração dos inventários turísticos feitos pelos órgãos competentes, ajudando ao município sanjoanense a ter esse status.

Na saída do mês de abril de 2020, onde acabamos de celebrar os 166 anos da inauguração da primeira ferrovia do Brasil - através dos empreendimentos do Barão de Mauá - e logo em seguida na primeira semana de maio, fomos apanhados de surpresa pela notícia de encerramento das atividades em definitivo do Sesc Mineiro de Grussaí, que entre outros atrativos, dispunha de uma dos maiores complexos ferroviários turísticos do país. Uma reunião administrativa acontecida nos aposentos desta unidade, decidiu taxativamente pelo fechamento do atendimento ao público e à demissão de boa parte de seus colaboradores.

A  Prefeita de São João da Barra, Carla Maria Machado do Santos, tomando ciência da notícia, chegou a se reunir nesta mesma semana com o staff do Sesc através “do Sr. Kelvio Alves dos Santos-Gerente Regional, Sr. Geraldo Antônio Neto-Gerente de Projetos, Sra Manoela Lutke Marques-Gerente de Turismo e Hospitalidade e também com o Sr. Carlos Carlos Dell Aglio- Gerente da Unidade de Grussai/SJB, para saber do destino do Complexo de Convenções, Turismo e Lazer.

Vale ressaltar que somente no Estado de Minas Gerais foram 08 unidades de hotelarias fechadas nesse período e a unidade do Sesc de S.J. da Barra, apesar de se situar no RJ, pertence ao Sesc MG, também.”  

Aí vem a indagação que nos interessa: o quê farão com o acervo ferroviário desta unidade?

O Sesc Mineiro de Grussaí, que passou a ter a suas atividades no Balneário de Grussaí em 1979, tornou-se, com o passar dos anos, uma referência turística nacional. Com os seus um milhão e oitocentos mil metros quadrados de área, trouxe muitos atrativos, destacando-se as réplicas e menor escala de monumentos mundialmente conhecidos como o Taj Mahal, Pagode Chinês, Casa de Chás Japonesa, esfinge, Ópera House entre outros. Mas os projeto que sem dúvidas mais identificava o Sesc Mineiro de Grussaí era o Complexo Ferroviário e Turístico.  

Se as locomotivas do Sesc Mineiro de Grussaí  fizeram parte da alegria de muitos visitantes até os dias da pré-pandemia do Covid-19 no Complexo de Convenções de Turismo, Esporte e Lazer daquele espaço, deve ser sempre lembrado aqui com o resgate da memória pelas glórias e louvores dos mineiros e sanjoanenses que deram seu laboroso suor para tal êxito.

Lembramos aqui do Dr. Robínson Correa Gontijo, um idealista, visionário e apaixonado por ferrovias, que através do projeto intitulado “Maria-fumaça” não mediu esforços para colocar em funcionamento a ferrovia do Sesc Mineiro de Grussaí com seis locomotivas adquiridas das usinas da região (Barcelos e Conceição de Macabu) e de São Paulo e vários vagões construídos por mão-de-obra genuinamente sanjoanense (Equipe do marceneiro Leandro Lisboa).

Dr. Robínson Gontijo procurou todo o tipo de informação necessária à execução do projeto “Maria-fumaça” do Sesc Mineiro de Grussaí. Não distante dos desafios de se reconstruírem as   locomotivas que estavam por alguns anos “jogadas ao tempo” nos pátios das usinas já menionadas, teve Dr. Robínson grande esforço em adequar os modelos de gestão orçamentária e fiscal da unidade do Sesc para compra de tais máquinas, além de arrumar pessoal habilitado para colocá-las em pleno funcionamento.

Diz a tradição oral dos ex-funcionários do Sesc Mineiro de Grussaí, que Dr. Robínson Gontijo ao conseguir os maquinários em ferragem centenária, viu que teria que refazer não só as suas engrenagens bem como as cabines das mesmas, porém, na questão das cabines não tinha ninguém especializado na região para tal tarefa. Com a ajuda do gerente Vinicius Resende, lembraram que em São João da Barra se construíam muito bem nos pequenos estaleiros navais as “casarias” das traineiras  que iam para alto mar e que eram parecidas com as das locomotivas. Dali em diante, fizeram contatos com os artífices sanjoanense Leandro Lisboa bem como outros e começaram a construir as cabines das locomotivas bem como os 30 vagões que por lá existiam. Com essa iniciativa, gerou empregos para mais de 15 famílias durante meses, contam os ex-funcionários.

Dr. Robínson Gontijo veio a falecer em 30 de dezembro de 2013 e era proveniente da cidade de Bom Despacho, curiosamente o nome que leva a Estação principal de embarque e desembarque no Sesc Mineiro de Grussaí.

Para se ter uma ideia da importância do Dr. Robínson Correa Gontijo, junto à Rede SESC - MG, o texto colhido do Jornal " Turismo MG" edição 322 traz maior conhecimento desse grande homem de realizações:

"Agradecimentos
Os ex- funcionários do SESC DE MINAS GERAIS que participaram dos últimos períodos da Administração ROBÍNSON CORREA GONTIJO, vem a público homenageá-lo e agradecer todas as manifestações de gratidão recebidas por ocasião de seu falecimento, ocorrido em 30 de dezembro de 2013.” 

O INÍCIO DE FUNCIONAMENTO DA MARIA-FUMAÇA NO SESC-MINEIRO DE GRUSSAÍ

“No ano de 1998, com uma linha ferroviária de 180 metros construída dentro da estrutura, a unidade foi preparada para receber mais uma atração”. 
No jornal São João da Barra, ano IV – n.º 24 de janeiro de 1998, página 8, uma entrevista dada pelo Gerente do Sesc Mineiro de Grussaí, Vinicius Resende, ao caderno de Ellen Especial, que já mencionava o funcionamento da “Maria-fumaça” na ainda colônia de férias:

“Já em fase experimental, circula uma locomotiva Maria-fumaça que terá vagão-restaurante, um percurso de 5 quilômetros, dentro da própria colônia.

(...)

Além da conclusão das obras do Parque Recreativo, que estão em andamento, temos um projeto de ampliação de nosso Parque Esportivo e ainda a conclusão do projeto “Maria-fumaça”, que visa resgatar nossa memória ferroviária hoje quase esquecida. Já dispomos de 5 Km de linha férrea para tráfego de nossa locomotiva a vapor e estamos construindo carros de passageiros e obras complementares, como plataforma de embarque e desembarque de passageiros e outras.” 
Segundo informações obtidas com o ex-gerente da unidade do Sesc Mineiro de Grussaí, o administrador Vinicius Resende, o 1º teste da locomotiva que havia sido ainda nas dependências  da Usina Barcelos (onde a mesma foi adquirida) aconteceu com a participação dos seguintes colaboradores : Ronaldo e Barreiro (auxiliares do Sr. Ciro), Marcos Antonio (funcionário do Sesc), Moacir Carolino dos Reis (maquinista), Amaro (auxiliar do Sr. Ciro), Ciro Alvarenga ( mecânico responsável pela reconstrução da locomotiva), Walter Coutinho (Guarda-chaves) e o próprio Vinícius Resende, em clima de grande emoção.


Em novembro de 1999, o Sesc Mineiro de Grussaí realizou o prodígio de trazer o tempo de volta, ou melhor, as boas coisas de antigamente, como o passeio de Maria-Fumaça e a dança antiga com os bailarinos do CEPEG. Sua 1ª Mostra de Artesanato e Folclore Regionais foi um tremendo sucesso.
A “Maria Fumaça” brilhando como nova, resfolegava nos trilhos como nos velhos tempos. Nas estações ao longo do caminho dava uma parada e dela descia um bando colorido e alegre, vestindo roupas semelhantes à usadas pelos fidalgos franceses da corte do Rei-Sol. Era como se o tempo desse uma brusca guinada para o passado, e misturasse as épocas, mas era apenas uma das atrações da 1ª Mostra de Artesanato e Folclore Regionais, promovida pelo Sesc Mineiro de Grussaí, no período de 13 a 15 de novembro. Durante esse tempo muita coisa aconteceu para a alegria das quase mil pessoas que compareceram a este que é, sem dúvida, o maior complexo de lazer da Região. Da programação constaram alvorada, uma exposição de artesanato a cargo de Ângela Amaral, da Casa do Artesão “Alcimar Simões Bomgosto, no 2º pavimento da sede social do complexo, o passeio na Maria Fumaça, com a apresentação do Grupo de Danças do Cepeg – Centro de Estudos e Pesquisas de Grussaí, quadrilha, capoeira, baile com grupo de Forró, retreta com a Banda União dos Operários, uma mostra do Carnaval de São João da Barra, considerado o melhor carnaval do interior do estado do Rio e baile na concha acústica”. 

Durante muitos anos a ferrovia turística vinha atendendo à contento a grande massa de turistas, em sua maioria provenientes do Estado de Minas Gerais. Por problemas de quebra de contratos de serviços, a operação da linha ficou suspensa por longos meses, desde meados de 2018 até 2019, mostrando uma possível paralisação da linha.

Passados esses problemas e reformulados novos contratados, a linha havia retornado com o devido sucesso. Em dezembro de 2018, havia saído uma boa notícia para o Complexo Ferroviário de Sesc MG de Grussaí, que mostramos por aqui no seguinte teor:

PUBLICADA NO DIÁRIO OFICIAL DE HOJE A LEI QUE CRIA O PROGRAMA ESTADUAL DE RECUPERAÇÃO DA MALHA FERROVIÁRIA COM OBJETIVOS TURISTICOS.

O Presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, em conformidade com o que dispõe o § 5º combinado com o § 7º do artigo 115 da Constituição Estadual, promulga a Lei nº 8.210, de 10 de dezembro de 2018, oriunda do Projeto de Lei nº 1252, de 2012.

LEI Nº 8210 DE 10 DE DEZEMBRO DE 2018.
CRIA O PROGRAMA ESTADUAL DE RECUPERAÇÃO DA MALHA FERROVIÁRIA COM OBJETIVOS TURISTICOS.
A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
R E S O L V E:
Art. 1º Fica criado o Programa Estadual de Recuperação da Malha Ferroviária com objetivos turísticos do Estado do Rio de Janeiro, com a finalidade de recuperar as seguintes linhas:
a) Ramal Santa Cruz - Mangaratiba;
b) Ramal de Sumidouro: Murinelli-Sumidouro;
c) Ramal Macaé - Campos dos Goytacazes;
d) Ramal São João da Barra (EF SESC Grussaí);
e) Ramal Campista (Campos dos Goytacazes - Miracema);
f) Ramal Saracuruna - Cantagalo;
g) Ramal Conrado - Miguel Pereira - Paty do Alferes;
h) Ramal “de subida da Serra de Petrópolis” (Magé - de Guia de Pacobaíba a Piabetá) e (Magé - da Vila Inhomirim a Petrópolis);
i) Ramal Porto de Mauá (Magé) - Fragoso/Vila Inhomirim;
j) Ramal Trem da Mata Atlântica ligando Angra dos Reis - Lídice (Rio Claro) - Barra Mansa;
k) Ramal da Fazenda Mato Alto (Guaratiba) Rio de Janeiro;
l) Ramal Paraíba do Sul - Três Rios - Sapucaia (Jamapará);
m) Ramal Barrinha (Barra do Piraí - Japeri);
n) Ramal Barra do Piraí (Central, Ipiabas).

Art. 2º Este Programa tem por finalidade fomentar o turismo no interior do Estado, atraindo e facilitando o acesso dos visitantes aos pontos turísticos dos diversos municípios do Estado do Rio de Janeiro, além de ser mais uma opção de transporte para os residentes nas regiões atendidas pelo Programa.

Art. 3º A recuperação física das estações existentes em cada um dos municípios beneficiados pelo Programa de revitalização das malhas ferroviárias poderá ser realizada por meio de convênios entre Governo Estadual, a União e as Prefeituras Locais, podendo haver, também, parcerias privadas.

Art. 4º A Secretaria de Estado de Transportes promoverá a análise da malha ferroviária existente, com elaboração do projeto de recuperação, o respectivo orçamento das obras e o cronograma para sua implantação.

Art. 5º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, em 10 de dezembro de 2018.
DEPUTADO ANDRÉ CECILIANO
2º Vice-Presidente.” 

Desta forma, com a publicação da referida lei estadual acima mencionada, o Complexo Ferroviário e Turístico do Sesc Mineiro de Grussaí poderia ter alcançado mais incentivos, no entanto, pelo o que se sabe, nada foi feito.

A Rádio Grussaí FM, em seu site publicou, em 06\05\2020 a seguinte informação:
“Desde 2018 a Fecomércio que administra o Sesc  Grussai se envolveu em uma série de escândalos que a  Rádio Grussai FM vinha denunciando a tempo.  

Naquele ano de acordo com a denúncia apresentada pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais (MPMG), haviam indícios de desvios de recursos do sistema Fecomércio no valor aproximado de R$ 70 milhões em benefício de gestores.

Depois de cerca de três anos de investigação, o MPMG denunciou esquema que direcionava contratos de compra de bens, serviços e obras, além do superfaturamento deles, com vantagens ilícitas para então diretores da instituição. 

O judiciário de Belo Horizonte chegou a realizar uma intervenção na Fecomércio que sofria pela má administração do senhor Luiz Gonzaga e seu grupo político que tentava a todo tempo se perpetuar no poder. 

Na época por ordem do juiz Guilherme Sadi , foi nomeada interventora judicial para fazer levantamento administrativo e financeiro, além de conduzir o processo de sucessão na presidência da federação, marcado para 16 de maio daquele ano. O processo eleitoral da Fecomércio-MG foi muito tumultuado. 

O ex Presidente Luiz Gonzaga que chegou a ser afastado do cargo juntamente com outros diretores e posteriormente conseguiu eleger o seu sucessor que na justiça depois de muito trabalho conseguiu finalmente tomar posse. Naquela altura já era tarde qualquer esforço de quem quer fosse, mal administrado e atolado em dívidas é normal que nem mesmo o Sesc MG conseguiria  resistir  a um grupo político que mais se preocupava em Se servir do que propriamente servir a entidade ,que acumulou queda nas receitas e  unidade vazia, aliás esvaziar a mesma e se envolver em uma série de denúncias que envolviam superfaturamento e corrupção que beneficiavam segundo o judiciário a todo grupo político ligado ao Sr. Luiz Gonzaga ,foi sem dúvidas  fatalmente o maior adversário do Sesc que aos 40 anos acabou não resistindo.

No portão do Sesc na manhã desta quarta 06 de maio (2020) os trabalhadores que deixavam a unidade de Grussai , era desolação total, um ex funcionário que pediu para não ser identificado contou que foi alegado um déficit mensal de mais de 3 milhões e que ele não sabia o que seria da sua vida a partir daquele momento. 

A RÁDIO GRUSSAI FM tentou contato com a assessoria de imprensa do Sesc, porém não obteve retorno até o fechamento da matéria.” 

Voltando para meados de agosto de 2019, havia rumores de retirada de locomotivas da unidade para servirem à outras unidades de Minas Gerais. Não conformado, escrevi para a Superintendência do Sesc MG e recebi a seguinte resposta:

“Prezado Andre
Em respeito e atenção a sua manifestação sobre o questionamento de doação de locomotivas Maria-fumaça para outro local, temos a relatar que alguns equipamentos fora de operação e subutilizados serão doados a outras regionais do Sesc, para levar a magia e o encantamento do atrativo Maria-fumaça às pessoas que não tiveram chance de vivenciar esse transporte, que foi a base de mobilidade urbana e entre as regiões
Agradecemos o contato e permanecemos
À disposição.
Equipe Sesc MG” 

Por decisões da Superintendência do Sesc MG, do apoio da Fecomércio e também do apoio dado pelo Governador Witzel, do Estado do Rio de Janeiro, a Locomotiva 220, Baldwin, bem como alguns vagões de passageiros foram direcionados para o Município de Miguel Pereira, no estado do Rio de Janeiro, para compor a linha turística daquele local, que não era uma unidade do SESC MG.
Em maio de 2020 veio a notícia do fechamento integral do Sesc Mineiro de Grussaí, por questões ligadas à gestão e incompatibilidades econômicas do Complexo como um todo.

PERSONALIDADES DO COMPLEXO FERROVIÁRIO E TURÍSTICO

O ADMINISTRADOR GERAL

Por longos anos Robínson Correa Gontijo administrou o SESC de Minas Gerais, levando para vários municípios os serviços desta entidade, estimulando, divulgando e preservando os valores regionais de cada município. Mineiro por excelência, trazia no sangue a verdadeira mineiridade traduzida nas Unidades que implantou nas cidades de Araxá, Uberaba, Uberlândia, Governador Valadares, Teófilo Otoni, Juiz de Fora, Montes Claros, Sete Lagoas, Poços de Caldas, Ouro Preto, Bom Despacho, Januária, Almenara, Paracatu, além de São Sebastião do Paraíso e Muriaé, essas duas últimas deixadas em fase de conclusão.

Presenteou os mineiros com a Praia que Minas não tem implantando no município de São João da Barra, no Estado do Rio, a gigantesca Unidade de Grussaí. Na grande Belo Horizonte, criou unidades em Contagem, Santa Luzia, Venda Nova, e em vários bairros, além de Unidades itinerantes que prestam serviços em vários municípios. Um de seus últimos e grandes feitos foi a implantação do Sesc Palladium.

Enfim, deixou para os mineiros inestimáveis serviços nos campos da educação, cultura, saúde, esporte, lazer e turismo, que nem o tempo e nem o vento apagarão, pois ficaram incrustadas nas lembranças e na vida de milhares de pessoas que conhecem o SESC DE MINAS GERAIS.
Muito se teria para falar desse mineio, brasileiro, possuidor de cultura erudita, defensor árduo da nossa língua, mas, muito mais tem para ser visto - o legado deixado para os mineiros e toda a sociedade: a expansão do SESC de MINAS GERAIS, pelo qual dedicou uma vida inteira até 12 de agosto de 2010." 

O GERENTE GERAL
Deixando o seu nome na histórica existência da unidade do Sesc Mineiro de Grussaí, o Gerente Geral Vinicius Costa Resende, Técnico em Turismo e Bacharel em Direito, fez marca indelével de gestão de excelência, sendo o principal articulador entre a Superintendência do Sesc MG, Presidência e equipes de operação do projeto Maria-fumaça. A sua invejável gestão fez com que o SESC MG de Grussaí alcançasse um sucesso esplendoroso.    

O MAQUINISTA DO SESC-MINEIRO DE GRUSSAÍ

Sr. Moacir Carolino dos Reis, sanjoanense de Barcelos, maquinista profissional, aprendiz desde os 14 anos de idade na Usina São José, tendo conhecido o ofício com o seu pai. Trabalhou muitos anos na Usina Barcelos junto com outros maquinistas nas 08 locomotivas pertencentes à Usina Barcelos.
Nascido a 06 de janeiro de 1931, octogenário, Sr. Moacir esbanjava conhecimento na condução das seis locomotivas que estavam em funcionamento no Sesc Mineiro de Grussaí, servindo de equipamento turístico aos visitantes daquele Centro de Convenções, Turismo e Lazer.
Sempre teve grande conhecimento na condução das máquinas e foi um sobrevivente do 4º maior acidente ferroviário do Brasil, acontecido em abril de 1950, na ponte de Tanguá, com mais de 100 mortos pela queda de vagões no rio e por afogamento de seus passageiros.
Contou-nos o Sr. Moacir, que estava no penúltimo vagão quando tudo aconteceu tão rápido. Muito assustado com tudo que presenciou, afirma ter ficado em cima do vagão que estava, pendurado entre a ponte e o rio, vendo lá de cima muitas pessoas desesperadas, algumas já mortas esfaceladas nas ferragens retorcidas e as que sobreviviam e pulavam nás águas eram carregadas pelas cheias e morriam afogadas, isso, famílias inteiras, relata.

O AJUSTADOR DE LOCOMOTIVAS
O Sr. Ciro Alvarenga, sanjoanense de Barcelos, com 74 anos de vida, a exemplo de Sr. Moacir Carolino, aprendeu desde cedo os ofícios de manutenção, construção e montagens de maquinários férreos. Também acompanhava seu pai, desde menino nas oficinas da Usina Barcelos, onde tornou-se aprendiz de ajustador de locomotivas e em 1958 acabou sendo efetivado com carteira assinada. Ficou por lá durante quase 40 anos. 
O Sr. Ciro nos contou passagens muito interessantes sobre a sua profissão. Uma delas, era a de que ele ía na cabine das locomotivas junto com os vários maquinistas que se revezavam no percurso por entre as fazendas produtoras de cana-de-açúcar e as usinas. Nas idas e vindas deste percurso acabou flertando uma jovem da comunidade de Beira do Tahy onde pouco tempo depois se tornaram casados. O apito do trem a tirava de casa quase todos os dias, afirmou Sr. Ciro, muito feliz com o casamento duradouro até os presentes dias.
O Sr. Ciro Alvarenga atuou como micro empresário do ramo ferroviário, prestando serviços ao Sesc Mineiro de Grussaí, responsável pelo funcionamento da linha férrea turística do complexo, pela oficina, pela manutenção de todo o maquinário composto de locomotivas à vapor e à diesel, bem como pela contratação do Sr. Moacir Carolino – maquinista e de dois jovens aprendizes que estavam dando continuidade ao projeto “Maria-fumaça”.
Sr. Ciro Alvarenga conseguiu transmitir o amor ao trem como legado para uma de suas filhas, a Geisa Alvarenga, que o auxiliava como “fiscal de linha” quando dos passeios do trem aos sábados à tarde, onde atuava na bilheteria, condução dos passageiros às cabines e informações de segurança durante o circuito.

O ACERVO FERROVIÁRIO DO SESC-MINEIRO DE GRUSSAÍ


O acervo estava composto por estações, locomotivas e vagões variados. As estações construídas para o receptivo turístico estavam assim elencadas:

Estação Bom Despacho; Estação Onça do Pitangui; Estação Ladainha; Estação Velho da Taipa; Estação de Ibitutinga; Estação Garças de Minas; Estação de Salerno – Itália; Estação de Sevilha – Espanha; Estação Leandro Ferreira, e; Estação Barra do Funchal;

Quanto à estrutura do material rodante, o Sesc- Mineiro /Grussaí  oferecia: 

O projeto “Maria-fumaça” do Sesc Mineiro de Grussaí,  segundo o seu encarte de divulgação intitulado “ Passeio de Trem Maria-fumaça no Sesc-Mineiro/Grussaí” tinha a seguinte estrutura rodantes:

05 locomotivas a vapor; 02 locomotivas a diesel; 04 locomotivas eletrodiesel 14 carros de passageiros; 05 carros-dormitório; 03 carros-restaurante; 01 carro-administração; 01 carro-biblioteca; 

01 carro correio/bagagem; 01 carro fúnebre; 01 prancha para transporte de lenha; 02 vagões-boate; 02 vagões-gaiola; 01 vagão-gôndola, e; 01 vagão-tanque;

Eram 44 veículos ferroviários com capacidade para aproximadamente 850 passageiros. 

Em tempo: Segundo informações veiculadas na Rádio Barra FM, através de informações do Sr. Agostinho (filho do maquinista Moacir Carolino), foram enviados ao Município de Miguel Pereira, em 2020, 1 locomotiva e oito vagões para comporem o circuito ferroviário e turístico daquela cidade. 

LOCOMOTIVA DO SESC MINEIRO DE GRUSSAÍ, QUE PERTENCEU À USINA BARCELOS FOI IMORTALIZADA EM CENAS DO FILME "O QUINZE"

A gravação do filme "O Quinze", inspirado na obra literária de Raquel de Queiroz, que teve como ambiente de filmagem um vilarejo da localidade de Caetá, em 2010, no próprio município sanjoanense e com figurantes da terra. Depois de rodar em Quixadá, no Ceará, 90% do filme "O Quinze", inspirado na célebre obra homônima de Rachel de Queiroz, a produtora Letícia Menescal escolheu a região de São João da Barra, no Norte Fluminense, para as cenas finais. ''Procuramos por todo país uma autêntica maria-fumaça. Optamos por um exemplar que estava em São João da Barra'', disse o diretor Jurandir Oliveira, acrescentando que o trem era atração no Sesc Mineiro de Grussaí.
Mais uma importante história para a manutenção da memória ferroviária de nossa terra!!!

CONCLUSÃO

A paralisação em definitivo do Complexo Ferroviário e Turístico do Sesc Mineiro de Grussaí está causando uma grande interrogação no que se refere ao destino do maravilhoso acervo lá existente, objeto do mais alto valor, entre os poucos de memória e patrimônio ferroviário existentes no Brasil. 
Com um acervo riquíssimo em material rodante como locomotivas restauradas das usinas de açúcar de nossa região e de outros estados, o Sesc MG de Grussaí dispunha até a data de seu fechamento, de pessoal capacitado para a operação das mesmas, com mão-de-obra local, forte gerador de empregos, renda e fomentador da economia. Maquinistas, foguistas, auxiliares de linha, mecânico, eletricista, marceneiro, bilheteiros, esses e outros mais estariam ainda empregados, caso as atividades continuassem regulares. Indiretamente à ferrovia, outros serviços estariam atrelados como trios musicais, empresas de limpeza, dedetização, manutenção dos trilhos, limpeza interna, pintura dos vagões e muitos outros.

Não podemos aqui afirmar que o fechamento do Complexo de Convenções, Turismo e Lazer, que inclui a Ferrovia Turística, tenha sofrido a má gestão por inescrupulosos administradores, conforme matéria jornalística acima mencionada, uma vez que tais fatos ainda estão sendo apurados pela justiça pertinente. Tão quanto se a Superintendência do SESC MG procedeu o fechamento da unidade por causa dos impactos advindos da pandemia do COVID-19. A alegação que se tem notícia é a de que a unidade não estava se sustentando economicamente, ou seja, estava com inviabilidades econômicas de sobrevivência.

Fato é, que nesse momento, tudo está incerto. Não se sabe ao certo se o material rodante do Sesc MG de Grussaí será enviado para outras unidades do SESC MG que tenham verbas para a reconstrução de uma nova ferrovia ou se serão destinados os mesmos para algum galpão ou estação para se tornarem museálias de contemplação turística. 

Ainda é cedo para se afirmar se o Município de São João da Barra irá implementar alguma ação em parceria com o SESC MG, Fecomércio ou Governo do Estado do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, valendo-se, por exemplo, da Lei 8.210 de 10 de dezembro de 2018, mencionada neste texto. A pandemia do COVID-19, é fato, está sugando todos os esforços e economias das administrações públicas municipais, e com certeza, a ferrovia não será prioridade no momento.

De certo, deve haver várias unidades mineiras de olho nesse farto material ferroviário e o lobby ja deve estar sendo feito em várias esferas administrativas e políticas em Minas Gerais. 

Há, por outro lado, a necessidade notória de empenho político local para busca de soluções com parcerias consolidadas para que o acervo permaneça incólume em nosso território, pois São João da Barra, que bem valoriza a sua cultura patrimonial, a exemplo da restauração da antiga Estação Ferroviária da sede – hoje Estação das Artes Derly Machado – e que tem em seu plano de governo a desapropriação da Estação de Atafona para servir de futuro centro cultural e Museu Ferroviário,  teve rico histórico de existência da Ferrovia Ramal Campista, da extinta The Leopoldina Railway, lhe conferindo de certa forma, um status de município ferroviário. Há, por outro lado, uma demanda contemporânea voltada à passagem da Ferrovia EF-118 em São João da Barra (região do 5º Distrito), no propósito de atender ao Porto do Açu, mostrando mais uma vez que o município sempre teve vocação para esse modal sobre trilhos. 

Ademais, o Complexo Ferroviário do Sesc Mineiro de Grussaí caiu na afetividade e sentimento de pertença do cidadão sanjoanense como um de seus atrativos mais bucólicos, frequentados por suas famílias, principalmente nos anuais circuitos juninos.

Em exercício mental de se argumentar probabilidades de se proceder algum remédio, nos vem à luz o instituto do tombamento como patrimônio cultural pelo município e a sua posteriori desapropriação no propósito de assegurar a permanência desses bens em nosso território, mas a assertiva é de que o corpo jurídico da Procuradoria Geral do Município faça a análise pertinente, com a anuência do Conselho Municipal de Cultura, para deliberarem em suas sessões a vontade para tal.

Se todo o complexo servirá para outros propósitos, tudo ainda está às escuras dos munícipes sanjoanense. Cada qual nas ruas tem sugestões diversas do destino da unidade.

Concluindo, o tempo tem sido caminho incerto para esse Complexo de Convenções, Turismo e Lazer, e dirá qual será o melhor destino para esse material tão importante para a história ferroviária do Brasil. Que a decisão seja acima de tudo, justa e que todo o acervo não seja colocado ao descaso e abandono, o que caracterizaria um verdadeiro crime contra à Pátria e seus patrimônios.

* Técnico em Turismo, Bacharel em Administração com especialização em Museografia e Patrimônio Cultural, escritor de temas ferroviários com pesquisas e contos publicados na Academia Brasileira de Jovens Escritores e Academia Ferroviária de Letras.  

Agradecimentos: Ao amigo Vinicius Resende por ter cedido fotos seu arquivo pessoal.